No Dia Mundial das Tartarugas, Inpa e Cequa celebram o legado de Richard Vogt e reforçam a conservação dos quelônios amazônicos
O minicurso “Manejo de Quelônios Amazônicos”, ministrado pela M.V. Luana Cauper, juntamente com a ME. Maria Menezes abriu portas para o conhecimento da diversidade de tartarugas que habitam no Bosque da Ciência
Na Amazônia brasileira ocorrem cinco espécies de quelônios da família Podocnemididae, entre elas, a Podocnemis erythrocephala, conhecida popularmente como ‘irapuca’, é uma das mais exploradas na bacia do Rio Negro, região com maior diversidade de espécies de tartarugas continentais (Vogt, 2008; Ferrara et. al., 2017).
A proteção das áreas de desova e a transferência de ninhos de tartaruga para incubação em locais protegidos estão entre as principais medidas de manejo para conservação dessas espécies. Além disso, a disseminação de informações relacionadas aos aspectos ecológicos, à biologia reprodutiva desses animais, são importantes para estudos que visem a conservação, aumento do sucesso reprodutivo na natureza, bem como para subsidiar práticas para o uso sustentável das espécies nas populações tradicionais.
No Dia Mundial das Tartarugas, comemorado anualmente no dia 23 de maio, o Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (Cequa) realizou uma série de atividades voltadas à conservação de quelônios amazônicos em comunidades. O evento ocorreu nos dias 23 e 24 de maio, no Bosque da Ciência, localizado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O intuito foi levar conhecimento ao público em geral, especialmente estudantes e profissionais da área ambiental, por meio de minicursos, exposições, gincanas e diversas palestras on-line com especialistas que atuam há anos com tartarugas.

Entre as atividades desenvolvidas pelo Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia, o minicurso “Manejo de Quelônios Amazônicos”, ministrado pela médica-veterinária, Luana Cauper, juntamente com a convidada e Mestre em Ciências Biológicas, Maria Menezes, foi uma verdadeira imersão na diversidade de tartarugas que habitam no centro de estudos, honrando o legado de Richard Carl Vogt dia após dia.
Durante o curso, a M.V. Luana Cauper, que atua no (Cequa) desde 2017, explica como essa iniciativa agrega e gera impacto na vida das pessoas. “A importância do curso, é que além de capacitar esses alunos, abrimos portas para que eles desenvolvam algum tipo de trabalho mais específico, e estamos aqui para apoiar!”, afirmou.
Segundo a médica-veterinária, o Centro de Estudos abriga nove espécies de quelônios com o objetivo de estudar as particularidades de cada uma. Entretanto, ainda existem muitas outras entre as 21 espécies conhecidas que precisam ser estudadas, sendo também uma boa alternativa para quem deseja basear seu estudo na descrição vocal (sons produzidos por tartarugas, cágados e jabutis) de alguma espécie que ainda foi analisada, por exemplo.
A importância da biometria em quelônios
Os quelônios pertencem à classe dos répteis e são animais de fácil identificação por conta de possuírem um casco formado por duas partes, a carapaça e o plastrão, e um bico córneo para ajudar na alimentação, como foi mostrado pela Mestre em Ciências Biológicas, Maria Menezes.
“Embora sabemos que as tartarugas marinhas podem viver até 100 anos, ainda não se sabe sobre a longevidade dos quelônios amazônicos”, disse a bióloga.
No entanto, existe a técnica da biometria aplicada em tartarugas, que consiste na coleta e análise de dados físicos e morfológicos, como peso, comprimento da carapaça e do plastrão. “A biometria é importante porque, durante os trabalhos de levantamento populacional, como a pesca científica, nós capturamos os animais, realizamos as medições e os marcamos. Às vezes, encontramos espécies que já foram marcadas anteriormente, e isso é muito legal!”, expressa.
Maria reitera que existem apenas estimativas baseadas no tamanho das tartarugas. “Podemos supor que uma tartaruga de determinado porte tenha cerca de 50 anos, mas isso não é uma certeza que ela viverá até 100 anos, um exemplo. Essas informações vindas da biometria nos ajudam a responder diversas perguntas sobre o crescimento e a sobrevivência desses animais ao longo do tempo.” completa a bióloga.

Praticando o manejo comunitário
A Amazônia brasileira é uma das zonas prioritárias, onde são encontradas 21 espécies de quelônios de água doce, muitas delas classificadas em alguma categoria de ameaça (Vogt 2008; Ferrara et al. 2017; TTWG 2021; Cunha et al. 2021a; 2021b; 2022). Além disso, todas as fases de desenvolvimento dessas espécies, desde ovos até adultos, estão sujeitas a pressões e ameaças (Mittermeier 1975; Pezzuti et al. 2022).
Esses dados apontam para a importância da conservação dos quelônios, especialmente na região amazônica, além da conscientização de medidas de proteção e o incentivo da prática do manejo comunitário para garantir a sobrevivência dessas espécies ameaçadas.
A médica-veterinária Luana enfatiza que a prática do manejo comunitário é muito eficiente na conservação de tartarugas, sendo de extrema importância levar às comunidades todo esse conhecimento sobre a educação ambiental adquirido por meio das capacitações realizadas diariamente no Cequa, que por sua vez, oferece apoio às comunidades ribeirinhas e indígenas contribuindo com trabalhos científicos, ações de monitoramento e iniciativas de nidificação (proteção dos locais onde as tartarugas depositam seus ovos para garantir a eclosão dos filhotes) de quelônios em geral.

"Qual é o impacto de capturarmos uma tartaruga de grande porte e retirarmos todos os seus ovos?", questiona Luana.
Diferente de animais como cães e gatos, que dentro de três anos, estão com a maturidade sexual em alta, os quelônios ainda são considerados juvenis nesse mesmo período. Dessa forma, eles levam muito mais tempo para se reproduzir, o que compromete diretamente a continuidade da espécie.
“Por isso, levamos essa conscientização às comunidades, explicando que não se trata de proibir o consumo, mas de incentivar o manejo comunitário”, explica. “É mais sustentável retirar apenas parte dos ovos daquele ninho e deixar o restante, garantindo que daqui dois ou três anos, seus filhos e netos também possam se beneficiar, em vez de tirar tudo e acabar com a chance desses animais sobreviverem na natureza e não ter mais para frente”, salientou Luana.
Ciência e paixão pelos quelônios amazônicos
A convite de sua amiga Armanda, o estudante de medicina veterinária, Leonardo Hiroaki, não poupou elogios ao minicurso de manejo, no qual pôde aprender mais sobre a criação das tartarugas. “Achei muito interessante conhecer mais espécies, e como sou do interior, a gente sempre têm esse contato, mas eu não tinha o conhecimento sobre o Tracajá, o Pitiú e da própria tartaruga, então é bastante legal vir para ativar mais conhecimento além da sala de aula.” disse.
Armanda, por sua vez, revela que ama os animais silvestres, especialmente os quelônios. “Tem muitas espécies que estão em extinção. E o que me interessa é contribuir para evitar que venha acontecer uma extinção em massa.” destaca a acadêmica de medicina veterinária.

Legado de Richard Carl Vogt
O Dr. Richard C. Vogt, foi um dos pioneiros nos estudos de determinação sexual dependente de temperatura em tartarugas e da comunicação vocal. Dedicou mais de 30 anos aos estudos com Quelônios Amazônicos, e fez da reserva Biológica do rio Trombetas, e de outras áreas protegidas e rios amazônicos como seu laboratório.
Richard veio a óbito em 17 de janeiro de 2021, com 72 anos de idade. O Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (Cequa), por ele fundado, é apenas uma parte do seu inestimável legado, cuja contribuição para a ciência e para a conservação de quelônios será eternamente reconhecida.

Texto por: Bianca Cunha
Fotos: Felipe Samuel /
Bianca Cunha
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