HIV entre jovens: O que o silêncio esconde

A Doença:
“Tem sido difícil viver com uma doença que não tem cura, são momentos sem esperança. Todo dia meu corpo muda, e me pego pensando como será meu futuro”, relata A., um jovem de 21 anos que preferiu não se identificar, após receber o diagnóstico de HIV em 2024.
Quando o assunto são infecções sexualmente transmissíveis (IST), muitos ficam apreensivos. Medos, traumas e desinformação são alguns dos motivos das aflições, visto que é um assunto difícil para ser abordado. Uma pesquisa publicada pela Sociedade Brasileira de Urologia, em 2020, mostra que entre os entrevistados de 12 a 18 anos, apenas 30% afirmaram já ter conversado sobre sexo com a família.
O Brasil apresenta altas taxas de novas infecções por HIV, principalmente entre pessoas jovens. Os dados mais recentes do Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Ministério da Saúde apontam que, no ano de 2022, foram mais de 43 mil casos de HIV notificados no Brasil, sendo 17.802 entre jovens de 15 a 29 anos de idade.
Mas qual a diferença entre HIV e Aids? Segundo o Ministério da Saúde, o HIV, é um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae e é uma IST. Já Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças.
Ou seja, HIV é o vírus que pode causar a Aids, mas ter HIV não é o mesmo que ter Aids. A Aids é a fase mais avançada da infecção pelo HIV.
O Estigma:
“A gente sabe que o HIV carrega estigma e preconceito, mesmo com os avanços no tratamento e a possibilidade de uma pessoa se tornar indetectável”, explica a Dra. Sara Fernandes, coordenadora do grupo de apoio QualiAids, na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, em Manaus. “Muitas vezes, o preconceito parte da própria pessoa, gerando um sentimento de desesperança. É nesse momento que o suporte psicológico se torna essencial.”
O acolhimento emocional, segundo a especialista, é uma das formas mais eficazes de quebrar o estigma. O grupo QualiAids foi criado com o objetivo de reunir relatos de pessoas vivendo com HIV/Aids e conectar profissionais de saúde e psicologia na construção de uma rede de cuidado integral.
Diante do atual contexto social, torna-se essencial a promoção de ações voltadas à saúde sexual da população jovem. Um estudo realizado pelo UNICEF em 2022 — "Nós somos a resposta: o que adolescentes e jovens que vivem com HIV/Aids pensam sobre o acesso aos serviços de saúde no Brasil" — apontou os principais entraves e constrangimentos enfrentados por esse grupo nos serviços especializados. A pesquisa também destacou estratégias para tornar esses espaços mais acolhedores e eficazes.
Entre as sugestões apresentadas estão a ampliação do acesso à informação e ao atendimento psicológico desde o diagnóstico, a humanização dos cuidados em saúde e o fortalecimento de campanhas públicas que combatam o estigma do HIV/Aids. O estudo também recomenda maior participação de adolescentes e jovens soropositivos na formulação de políticas públicas, além da criação de protocolos de comunicação sobre o conceito I=I (indetectável = intransmissível) direcionados a profissionais da saúde e da educação.
O conceito I=I (Indetectável = Intransmissível) significa que uma pessoa vivendo com HIV em tratamento, atinge uma carga viral indetectável no sangue, não transmitindo o vírus por via sexual.
A Prevenção:
Além da camisinha, que continua sendo uma das principais formas de prevenção contra o HIV e outras ISTs, duas estratégias vêm ganhando destaque no enfrentamento a transmissão vírus: A PrEP (profilaxia pré-exposição) e a PEP (profilaxia pós-exposição). Ambas envolvem o uso de medicamentos antirretrovirais, mas em contextos diferentes.
A PrEP é voltada à prevenção contínua e regular, sendo recomendada a pessoas que se expõem com frequência a situações de risco. Nesse caso, os medicamentos são tomados antes do possível contato com o vírus. Já a PEP é indicada após uma situação de risco, como relações sexuais desprotegidas, violência sexual ou acidentes com material perfurocortante contaminado. O tratamento deve ser iniciado em até 72 horas após a exposição ao HIV, funcionando como uma medida emergencial.
É importante destacar que tanto a PEP quanto a PrEP protegem exclusivamente contra o HIV. A camisinha, portanto, continua indispensável para a prevenção de outras ISTs, como sífilis, gonorreia e hepatites B e C. A combinação dessas estratégias amplia a eficácia da prevenção e promove maior segurança nas relações sexuais.
O acesso aos medicamentos pode ser feito na Unidades Básicas de Saúde (UBS), após a realização de um teste rápido, com resultado em cerca de 30 minutos. Caso indicado, o paciente já sai da unidade com os antirretrovirais em mãos, além de receber preservativos masculinos e femininos e lubrificante íntimo, compondo um kit completo de prevenção.
Texto: Duda Clark
Fotos: Duda Clark e Sara Fernandes
Agência Experimental Falcon / Martha Falcão
Email: contato@portalfalcon.com
(92) 3003-4430